Artigo Sincrônia e Diacrônia
Análise sincrônica e diacrônica dos apartamentos dos designs: José Roberto Moreira do Valle e Jorge Elias
Alessandra Pantaleão Dirscherl - alepantadir@hotmail.com
Fernanda Vilela Martins Parreira - fernandavmp@yahoo.com.br
Jéssika Fernandes Parreira - jessika_parreira@hotmail.com
Luanny Silva de Souza - luanny_souza@hotmail.com
Paula Barcelos Vasconcellos - paulab_v@hotmail.com
O presente trabalho apresenta uma análise dos conceitos linguísticos diacrônicos e sincrônicos segundo o pensamento de Ferdinand de Saussure. Tem por objetivo aplicar os mesmos conceitos na análise de dois apartamentos distintos, referências em matéria de arquitetura e design, e que apresentam diferentes conceitos e relações históricas que opõe um ao outro.
Palavras-chave:
Sincrônico, diacrônico, arquitetura, design
Synchronic and diachronic analysis of the apartments designs: José Roberto Moreira's Valleand Jorge Elias
Alessandra Pantaleão Dirscherl - alepantadir@hotmail.com
Fernanda Vilela Martins Parreira - fernandavmp@yahoo.com.br
Jéssika Fernandes Parreira - jessika_parreira@hotmail.com
Luanny Silva de Souza - luanny_souza@hotmail.com
Paula Barcelos Vasconcellos - paulab_v@hotmail.com
This paper presents an analysis of the diachronic and synchronic linguistic concepts according to the thought of Ferdinand de Saussure. Aims to apply the same concepts in the analysis of two separate apartments, references in its architecture and design, and present different concepts and historical relations that opposes each other.
Keywords:
Synchronic, diachronic, architecture, design
1. Introdução
Ferdinand de Saussure foi um linguista que exerceu bastante influência na teoria da literatura, escreveu o livro “Curso de linguística geral”, no qual escreveu sobre sincrônica e diacrônia, ambos utilizados em seu livro para enfatizar uma visão sobre esses aspectos na questão linguística histórica. Neste trabalho, foram analisados dois apartamentos, um que se localiza em Buenos Aires do arquiteto Jorge Elias e o tríplex Higienópolis, São Paulo, de José Roberto Moreira do Valle, ambos de profissionais respeitados, mas que apresentam conceitos extremamente diferentes, cada qual lidando de um modo com conceitos linguísticos e históricos.
Assim, tendo como a referência as concepções sobre diacronia e sincronia expostas no livro, a análise do presente trabalho foi feita tendo como base esses conceitos linguísticos, relacionando-os à arquitetura e decoração desses apartamentos.
2.Referencial teórico-conceitual
No texto de Ferdinand Saussure ele apresenta algumas definições importantes para poder analisar a diacrônia com a sincrônia. As primeiras explicações são referentes aos aspectos mais gerais, para assim poder compreender os aspectos específicos. A principal definição é a de linguística, pois ela é a constituição de toda a linguagem humana e tem por objetivo estudar a língua.
A língua é o produto social da faculdade de linguagem e também um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para usufruir dessa faculdade. Por definição ela é a parte social da linguagem, é externa ao individuo, e ela não pode ser modificada e nem criada por um só individuo e também ela só existe devido ao contrato existente entre os membros da comunidade. De maneira geral, a língua depende das pessoas para poder existir, mas as pessoas também dependem dela para poder comunicar. A mesma questão de dependência acontece com a fala, pois por mais que o som seja um problema secundário na questão da linguagem, mas ela é importante para o estabelecimento da língua. A fala é um instrumento criado e fornecido pela coletividade e é importante para a propagação da língua. “A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça, historicamente, o fato da fala vem sempre antes.” (SAUSSURE, FERDINAND, p. 27)
Assim, podemos entrar em duas definições importantes, a linguística sincrônica e a linguística diacrônica. As duas estão atreladas ao tempo e a mudança realizada ou em um espaço de tempo ou ao longo de vários.
A linguística sincrônica é composta por todos fatores constitutivo de todo estado da língua. Nela pertence tudo o que podemos de chamar de “gramática geral”, pois somente o estado da língua pode ser estabelecido as diferentes relações da gramática.
Ela é um aspecto estático, mas não algo parado no tempo, mas sim um período, só que as modificações nesse ponto são mínimas. Possui somente uma perspectiva, que são as das pessoas que falam e é regular. Uni todos os termos coexistentes percebidos pela consciência coletiva.
Para poder entender a linguagem diacrônica tem a seguinte frase do texto “o começo e o fim de uma época são geralmente marcados por alguma revolução mais ou menos brusca, que tende a modificar o estado de coisas estabelecido. “ (SAUSSURE, Ferdinand, p.). O que entende por essa frase é que para o começo e o fim de um tempo tem revoluções significativas, o que não se enquadra com a sincrônica pois essa s mudanças são mínimas. Assim, as revoluções pertencem ao diacrônico, pois esse é um aspecto histórico, são mudanças significativas e que não podem conviver simultaneamente. A linguística diacrônica são termos sucessivos que substituem uns aos outros no tempo, são “não gramaticais” e os termos sucessivos são percebidos com facilidade. Possui duas perspectivas, uma prospectiva, que acompanha o curso do tempo, e outra retrospectiva que faz o mesmo em sentido contrário.
De maneira geral temos que o domínio diacrônico estuda a mudança e o sincrônico examina as consequências. A mudança do diacrônico é muita e a do sincrônico é muito pouco
Relacionando com a arquitetura, podemos analisar pelos tempos e estilos da arquitetura. Por exemplo, o Renascimento, o Barroco, o Rococó eram sincrônicos ao tempo deles, mas são diacrônicos em relação a história. Pois, dentro de cada um deles durante os anos tiveram mudanças significativas, mas eram pequenas, mas quando essas mudanças se tornavam significativas e começavam a substituir uma a outra no tempo, podemos ver elas como diacrônica, pois hoje ao relembrar delas é um fator de retrospectiva.
3. Materiais e métodos
As análises dos apartamentos foram feitas a partir da revista “Vogue”, em duas edições diferentes, ambas retratando as características arquitetônicas e de design dos dois apartamentos, assim como sites dos designers e entrevistas publicadas em outras revistas. Também utilizamos como referência o texto de Ferdinand Saussure como forma de melhor entender as definições de diacrônia e sincrônia.
4. Discussão e análise dos resultados
4.1 Apartamento Buenos Aires - Jorge Elias
Nascido em Ituverava, interior de São Paulo, se formou em 1981, pela Faculdade de Arquitetura Brás Cubas em Mogi das Cruzes. Também estudou História da Arte, Arquitetura e Mobiliário na Universidade de Roma durante 2 anos.
Jorge Elias trabalha com arquitetura e decoração há 28 anos. Tem um extenso currículo de participação em mostras de decoração nacionais e internacionais, além de diversos trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais, bem como em livros. Tem realizado inúmeros projetos residenciais, comerciais e exposições museológicas.Tem como principais obras o Restaurante O Leopolldo, Daslu, Empório Santa Maria, além de dezenas de casas, apartamentos e exposições que reproduzem seu estilo clássico.
A formação do mesmo já evidencia o gosto do arquiteto pela arte e pela história, principalmente do período do século XIX. Jorge Elias, inclusive afirma:
“Minha inspiração é a vida, minhas viagens, meus museus, meus amigos, o glamour que já está quase morrendo, e que eu ainda sou um sobrevivente dessa época que tudo era um grande prazer, e que a educação valia mais que tudo, infelizmente o mundo está mudando, pra pior…”
(2013. Vale a pena ver de novo: Bate papo com Jorge Elias).
O apartamento é localizado em Buenos Aires. Segundo o arquiteto, ele gosta de viajar para a Europa, mas alega que o tempo é curto, resolvendo assim comprar o apartamento em Buenos Aires que, para ele, é um pedaço da Europa na América. Isso reforça a afinidade do arquiteto para com os períodos mais clássicos da história, e a certa rejeição que tem para com os tempos modernos.
O luxuoso apartamento, destinado apenas a parentes e amigos íntimos, apresenta o requinte e repertório clássico característicos do arquiteto. Seu interior apresenta uma composição de elementos que remetem ao período eclético, e sua decoração - mobiliário, pintura, quadros, espelho, relógios, e demais elementos - é voltada para o século XVIII e não contém praticamente nenhuma peça contemporânea, a não ser um telefone.
Seu interior dá a impressão de um ambiente parado no tempo, em pleno século XVIII. Isso reforça o apreço e valorização que o arquiteto tem pelo período eclético, e a rejeição que o mesmo tem para com a contemporaneidade, evitando ao máximo os elementos contemporâneos.
Se torna um ambiente extremamente seletivo, no aspecto intelectual, emocional e físico, pois requer se a pessoa não compreende há época que o apartamento remete, dificilmente entrara no espirito do design oferecido, sendo assim suas sensações serão mais superficiais.
A espacialidade do apartamento remete à um estilo de vida que foge à dinâmica da vida contemporânea, apresentando espaços segmentados e com funções definidas, que contemplam a conformação dos apartamentos antigos. Isso também pode estar relacionar ao fato de que o morador não utiliza o espaço diariamente, mas sim de tempos em tempos quando vai à Buenos Aires, portanto o apartamento não necessariamente deve acompanhar uma rotina diária.
Entretanto, apesar dessa “volta no tempo” que o arquiteto deixa evidente em seus projetos, e nesse apartamento principalmente, no seu quarto é possível perceber um pouco mais de “contemporaneidade”, dando destaque para a presença de uma luminária que destoa de todo o resto. Isso de certa forma representa o fato de que o autor não pode evitar a todo tempo as mudanças e adaptações às quais somos sujeitos durante os tempos atuais (como equipamentos eletrônicos, etc). Talvez seja por isso que o quarto, por ser um local de maior estadia, apresente um caráter um pouco mais destoante dos outros cômodos.
4.2 Apartamento Tríplex de José Moreira Valle
O José Roberto Moreira do Vallle, banqueteiro e decorador, transformou totalmente um tríplex dos anos 50, além de refazer toda a espacialidade do apartamento deixando apenas algumas paredes do original, ele também decorou o apartamento com elementos que em sua maioria resgatam a casa brasileira dos anos 50 e 60.
O apartamento é formado por um duplex que foi primeiramente adquirido pelo decorador e logo depois foi adquirido mais uma unidade transformando assim o apartamento em um tríplex de 700 m². O apartamento é composto por, no primeiro pavimento há um salão que se abre para um grande living integrado com a sala de jantar e a cozinha gourmet, mais uma cozinha de serviço e a lavanderia, um lavabo e duas suítes, já no segundo pavimento, estão um salão com terraço, a adega, uma cozinha para o café da manhã e uma suíte, e finalmente no terceiro, um grande terraço em parte coberto, um banheiro e mais uma cozinha chamada “espaço grill”.
Trata-se de um local onde ele combina arte, coleciona objetos e intercala com a decoração. O apartamento é basicamente um acervo dessas obras, já que os objetos que o compõem são uma mistura que remete desde a antiguidade a objetos contemporâneos. Apesar da mistura de diferentes épocas, a composição e a própria arquitetura do local remetem a um ambiente moderno, analisando como conjunto.
Observamos misturas de peças de várias épocas, por exemplo, ele combina no mesmo espaço cadeiras francesas do século XVIII com o banco Cake com bichos de pelúcia dos Irmãos Campana. Há no apartamento fotos dos brasileiros, Mario Cravo Neto, Claudio Edinger e Caio Reisewitz e de estrangeiros como Pierre Verger.Os ambientes acolhem basicamente antiguidades, peças de design assinado, arte brasileira moderna, como a dos concretistas Barsotti, Charoux e Sergio Camargo, e contemporânea, de Ascânio, Adriana Varejão e Macaparana (no teto, uma escultura).O mobiliário une desde os sofás-estrelas do design italiano, de couro, até peças que são ícones nacionais, como biombos, pufe e poltrona dos irmãos Campana. E se misturam a uma rigorosa seleção vintage: poltronas e mesa de Scapinelli, sofá de Dinucci, lustres gêmeos da Venini sobre a mesa de jantar e muito mais.
Pode-se perceber que as características do apartamento remetem a um estilo de vida do dono, contemporâneo, que é refletido na decoração do apartamento. A espacialidade também reflete esse estilo de vida, já que são dispostos no apartamento 4 cozinhas - para café da manhã, espaço grill, cozinha de serviço e cozinha gourmet. Isto reflete o dia-a-dia do dono, já que além de decorador ele também trabalha com gastronomia, sendo dono de um buffet, gosto herdado do pai que era dono de restaurante.
Apesar de a imagem total passada pelo apartamento de moderno e contemporâneo, o decorador não abandona outros estilos, e sim faz uma mescla deles mostrando que tanto o que está sendo produzido hoje tem sua importância e seu peso como objeto de arte e também o que já foi produzido antes do moderno tem seu peso na história.
“Por conta das coleções, é uma decoração cheia. Mas, nela, procuro não ditar regras nem definir um estilo. E, sim, fazer um todo harmônico e gostoso, com design e peças antigas, em que tudo conversa entre si”
José Roberto Moreira do Valle.
5. Considerações finais
6. Referências
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral, 15ed. São Paulo: Ctrix, 1989, p. 7-28, 117-118, 163-166.